Soluções para as otites externas em cães

A otite externa (OE) é uma razão muito comum de consulta de cães numa clínica veterinária1, e os casos recorrentes de otite são algo que os veterinários encontram frequentemente.

Não só é importante identificar a causa primária da otite, como também tratar a tempo a inflamação aguda para evitar o risco de alterações crónicas, mas também é essencial ter em conta todos os fatores que influenciam a escolha do tratamento, a fim de tomar uma decisão adequada.

Um resultado satisfatório para todas as partes depende de um bom trabalho de equipa entre o veterinário e o tutod do cão.

As entrevistas recentes com os veterinários e os resultados de um inquérito veterinário pan-europeu2 dizem-nos que a comunicação com o tutor é uma parte importante, e por vezes complicada, da gestão de casos e que o conhecimento dos tutores sobre otites é bastante baixo.

No nosso website, www.caocomouvidoinflamado.pt, pode aceder a toda a informação que preparámos para os tutores de cães e esperamos que o ajude a explicar o problema com que se depara.

Qual é a definição de otite externa (OE)?

A otite externa é definida como uma condição inflamatória que afeta o canal auditivo externo, que se estende desde o pavilhão auricular até à membrana timpânica3.

Embora a OE esteja frequentemente associada a infeções bacterianas e/ou fúngicas, por definição a OE pode ocorrer sem o envolvimento de agentes patogénicos oportunistas secundários. A inflamação inicial associada à otite externa altera o ambiente do canal auditivo externo, o que favorece o crescimento excessivo de comensais óticos (principalmente Staphylococcus e Malassezia spp.) levando ao aparecimento de uma infeção.

Os sinais clínicos de OE podem incluir abanar a cabeça, coçar as orelhas, esfregar, prurido, dor e mau cheiro, mas isto pode variar dependendo do tipo de otite. Estes sinais podem também ser unilaterais ou bilaterais, o que pode fornecer pistas sobre a causa subjacente.

Classificação das otites externas

Os diferentes tipos de OE podem ser classificados de acordo com a sua apresentação clínica4:

Eritematosa

Eritematoceruminosa

Purulenta

Autor: CWalker, ThePhotoVet

Autor: CWalker, ThePhotoVet

Ligeiro eritema do ouvido externo

Eritema moderado do ouvido externo com exsudado castanho ou castanho-amarelado.

Grave eritema e possíveis ulcerações do ouvido externo com exsudado purulento

Constatações clínicas típicas:

Ligeiro vermelhidão da pele do canal auditivo externo e do pavilhão auricular com pouca ou nenhuma descarga.

Descobertas citológicas típicas:

Presença de queratinócitos (escamas), raramente com células inflamatórias mas sem evidência de sobrecrescimento microbiano (típico de dermatite atópica e indica inflamação sem infeção).

Constatações clínicas típicas:

Vermelhidão moderado da pele do canal auditivo externo e do pavilhão auricular e descarga normalmente cerosa.

Descobertas citológicas típicas:

Presença de células inflamatórias e sobrecrescimento comensal (Staphylococcus e/ou Malassezia).

Constatações clínicas típicas:

O canal auditivo externo e o pavilhão auricular estão com eritema evidente, por vezes ulcerados e dolorosos. Normalmente associado a patologías crónicas e alterações anatómicas irreversíveis.

Descobertas citológicas típicas:

Grande número de células inflamatórias com possíveis bactérias em forma de bastão (bacilos).

Quais são as causas primárias mais comuns das otites? 

A otite externa tem geralmente uma etiologia multifactorial, que pode ser dividida em causas primárias e secundárias juntamente com fatores predisponentes e perpetuantes:

  • As causas primárias são os fatores que desencadeiam a inflamação inicial do ouvido.
  • As causas secundárias são infeções que ocorrem como consequência da inflamação primária.
  • Os factores predisponentes são características que contribuem para o desenvolvimento da otite externa, mas que não causariam a doença por si só.
  • Os factores perpetuantes são elementos que impedem a resolução completa da doença, mesmo quando outros fatores são abordados e tratados.

Ao pensar especificamente nas causas primárias da inflamação, é importante lembrar que, como o canal auditivo é revestido pela pele, qualquer doença que afete a pele pode também afetar o ouvido.

A alergia foi identificada como a causa primária mais comum de OE5,6 no cão. Para além disso, corpos estranhos (geralmente sementes de gramíneas), parasitas (Otodectes cynotis e Demodex spp) e doenças endócrinas subjacentes (hipotiroidismo e síndrome de Cushing) também foram documentados como os desencadeadores primários mais comuns de inflamação que levam à otite externa5,6

 

Doença alérgica cutânea

Como mencionado acima, é muito provável que a dermatite atópica (DA) seja o desencadeador da inflamação primária na maioria dos casos de otite externa. De facto, a OE tem sido descrita como o primeiro sinal de apresentação em mais de 40% dos cães com DA7 , e para alguns cães é o único sinal clínico que evidenciam.  Juntamente com a dermatite atópica, a intolerância alimentar também deve ser considerada como uma causa alérgica de OE5,6.

Independentemente do tipo de alergia subjacente, o quadro clínico e citológico inicial é geralmente o da otite eritematosa acima descrita. É apenas quando o ambiente muda em resultado da inflamação e a função de barreira é comprometida que os organismos comensais começam a crescer em excesso, levando a uma infeção bacteriana e/ou fúngica secundária (geralmente Malassezia e Staphylococcus spp.).

Autor: CWalker, ThePhotoVet

Porque é importante insistir nas consultas de acompanhamento? 

A maioria dos casos de otite tem uma causa primária que precisa de ser identificada e devidamente tratada para evitar a perpetuação de alterações crónicas e irreversíveis.

Para assegurar a remissão das otites, é aconselhável realizar consultas de acompanhamento para verificar a resolução da inflamação aguda após o tratamento e repetir o exame do ouvido afetado.

Trabalhando em equipa e enfatizando uma comunicação clara, as hipóteses de se alcançar uma solução duradoura que beneficie todas as partes aumentam. O acompanhamento é fundamental para a resolução deste casos.

O nosso website para tutores inclui informações que o ajudam a comunicar esta mensagem e a torná-los mais conscientes da sua importância para aresolução e sucesso deste casos. Clique aqui para o visitar.

Porque é que a citologia é uma parte importante da gestão de casos? 

A citologia é importante em todos os casos de otite externa canina.

Não só fornece informação valiosa sobre um possível crescimento excessivo de microrganismos  de modo a se avaliar se a terapia antimicrobiana é ou não aconselhada e qual o produto a utilizar. É também um instrumento importante para avaliar a resposta ao tratamento e se é ou não necessário uma mudança de estratégia.

 

Como é escolhido o tratamento? 

Quando falamos sobre as possíveis opções de tratamento tanto para a inflamação dos ouvidos como para a infeção dos ouvidos, há muitos produtos diferentes à escolha. 

A razão pela qual existe uma gama tão vasta de opções para tratar as otites é porque não existe uma solução única que seja a melhor para todos os cães. 

Os seguintes fatores devem ser considerados ao decidir qual o tratamento mais adequado a cada caso individual:

  • Grau de inflamação
  • Sinais de sobrecrescimento bacteriano e de leveduras
  • Quaisquer diretrizes nacionais sobre a escolha de fármacos, em particular de antibióticos 
  • As circunstâncias individuais do tutor e do cão em termos de custo e facilidade de administração

Cada caso de otite canina é uma experiência diferente. Isto torna cada caso diferente para o veterinário e pode também significar que o cão esteja receoso na altura de aplicação o tratamento. Se o Tratamento não puder ser aplicado corretamente, isto não só afetará a resolução do caso, mas também aumentará o risco de resistência aos antibióticos. 

 

Referências   

  1. O’Neill et al (2021) Prevalence of commonly diagnosed disorders in UK dogs under primary veterinary care: results and applications. BMC Veterinary Research 17 (69)

  2. Internal report OTI21

  3. Bensignor, B (2021) An approach to Otitis BSAVA Manual of Canine and Feline Dermatology 4th ed. Gloucester, British Small Animal Veterinary Association 143-149

  4. Forsythe, P.J. (2016) Acute otitis externa: the successful first-opinion ear consultation. In Practice FOCUS 2-6

  5. Saridomichelakis , M. N., et al. ( 2007 ) Aetiology of canine otitis externa: a retrospective study of 100 cases. Veterinary Dermatology 18, 341 – 347

  6. Zur , G., et al ( 2011 ) The association between the signalment common causes of canine otitis externa and pathogens. Journal of Small Animal Practice 52, 254 – 258

  7. Favrot et al (2010) A prospective study on the clinical features of chronic canine atopic dermatitis and its diagnosis. Veterinary Dermatology 21, 23-31

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